Reinaldo

Rio de Janeiro: Tragédia e cinismo em área de risc

O atormentado governador Sérgio Cabral defende-se acusando, enquanto presidenta Dilma Rousseff assume responsabilidades do poder público na tragédia da Serra carioca.

População luta pela vida em Teresópolis

Como foi previsto por especialistas, agora já passa de 600 o número de mortos nas chuvas, deslizamentos e enchentes na região serrana do Estado do Rio de Janeiro.

O evento – uma tragédia anunciada – destaca-se como o maior desastre ambiental já ocorrido no Brasil. Eventos de grandes proporções causam dores, contradições e prejuízos desproporcionais para a população afetada, mas exibem, também, a natureza e qualidade do poder público no Brasil.

Apontado por incompetência e inoperância por deixar recursos financeiros mofar nas gavetas de Brasília, entre outras razões, Sérgio Cabral diz, entretanto, que a culpa de toda essa tragédia é dos políticos demagogos do passado, que nada fizeram para prevenir o drama de hoje. Cabral, agora em seu segundo mandato, referia-se, claro, também ao ex-governador Antony Garotinho, que antes dele dominou politicamente o Rio de Janeiro durante mais de uma década, acusado de permitir a multiplicação das áreas de risco de 300 para 1900.

As chuvas e a ameaça de novos deslizamentos continuam, centenas de pessoas choram seus mortos em sepultamentos realizados até de madrugada. A cada dia a população fica mais estupefata com o descaso dos gestores públicos: na tarde que antecedeu o drama, as prefeituras de Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo receberam do Instituto Nacional de Meteorologia informações de que cairia forte chuva na noite de terça-feira, 11 de janeiro. Um sistema pesado e contínuo de nuvens com origem na Amazônia – a tal Zona de Convergência do Atlântico Sul – logo despejaria grande quantidade de água na região serrana.

As prefeituras responderam que entre 16h e 2h da manhã não teriam tempo de fazer nada. Daí, pergunta-se: que poder público é esse? Para que essas pessoas são eleitas? Por que elas recebem salários mensais pagos com os impostos dos contribuintes? Por que não geraram um SOS geral aos moradores das áreas de risco? Por que a população não foi retirada às pressas das áreas de risco? Afinal, para que servem as rádios e as estações de TV e redes de telefonia e internet no Brasil?

A alegação de que as pessoas, mesmo alertadas, não dão atenção às advertências, é mais do que fraude. Uma simples regra da boa convivência é desrespeitada: basta que cada um cumpra a sua parte. Por que o serviço público não cumpre a sua?

E o Ministério Público Federal (MPF)?

Dizem que o Ministério Público Federal só entra num assunto quando provocado. E agora MPF? O que precisa mais para ser provocado? Mais mortes? Mais tragédias? Mais deslizamentos?

No próprio Ministério do Meio Ambiente (MMA), em Brasília, há informações segundo as quais há mais de 20 mil áreas de risco no país. Assim, um país com tamanho problema não precisa de terremoto nem maremoto.

Problema federal

Pela primeira vez em sua curta gestão, a presidenta da República, Dilma Rousseff, foi curta e certeira: a responsabilidade administrativa e política dessa tragédia também é do Governo Federal. Dilma parece ter clareza meridiana sobre o problema: não adianta proselitismo político, o que resolve é a ação administrativa. Vamos ver o que acontece doravante.

Fonte: Via Política/O autor

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