Walter

Breve glossário da sustentabilidade brasileira

A palavra sustentabilidade é o termo mais falado, escrito e ouvido nos dias atuais. Quando se quer se referir à viabilidade e ao futuro sucesso de algum tema, acrescenta-se a ele o derivado sustentável. A saber, temos:

Economia sustentável, agricultura sustentável, cultura sustentável, comércio sustentável, desenvolvimento sustentável, tecnologia sustentável, ecologia sustentável, religião sustentável, literatura sustentável, planeta sustentável, humor sustentável, amor sustentável etc.

Aproveitando o modismo da aplicabilidade do majestoso e imperativo adjetivo, vamos criar um breve glossário de conhecidas questões nacionais contemporâneas, ressaltando-se a sua semântica:

. Crime organizado sustentável – Organização financeira perpétua, comandada por facções criminosas, policiais e políticas para todo o sempre.

. Propinas sustentáveis – Aliciadoras de caráter infinitas, financiadas pelas empreiteiras, cartéis e afins, tendo como beneficiários servidores públicos e políticos corruptos.

. Mordomias sustentáveis – Benefícios ilegais institucionalizados, promovidos pelo Executivo, Legislativo, Judiciário e empresas estatais.

. Corrupção sustentável – Vício nacional imutável e eterno, promovido por servidores públicos, empresários e pelos gatunos da política.
. Impunidade sustentável – Lavagem de mãos contínua e perene, sustentada pela morosidade processual, que leva à prescrição, e pela inoperância dos poderes que investigam, julgam e condenam.
. Sonegação fiscal sustentável – Jeitinho brasileiro de se lucrar mais, praticado por profissionais liberais, artistas e empresários gananciosos.

. Compra de voto sustentável – Prática contínua e infindável, como condição sine qua non, articulada pelos maus políticos, com a ajuda econômica dos empresários interesseiros e com a participação também criminosa e descarada do eleitorado.

No Brasil, tudo é sarcasticamente sustentável! Mas, no fundo, no fundo, quem sustenta tudo isso? Nós, unicamente nós, a sociedade, que se torna comparsa pela inércia combativa, por não saber exigir, por não saber conjugar corajosamente os verbos mobilizar, lutar e revolucionar. Ou seja, por não tomar uma atitude sustentavelmente correta.

Seremos sempre o país do futuro sustentável. Uma utopia que sustentamos com cumplicidade e resignação.

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