Reinaldo

Era uma vez uma cidade fantasma

Uma cidade fantasma, de um prefeito fantasma e de um povo idem.

Era uma vez uma cidade incrivelmente linda, habitada por um povo burro e um prefeito corruptamente estúpido.

A cidade possuia tudo para ser a melhor do mundo: as águas que a contornavam eram prateadas pelo sol durante quase todo ano,ou seja, nem precisaria consumir energia hidráulica. Bastava suas casas e edifícios serem construídos adaptados para captação de energia solar; seria uma despesa a menos no orçamento da sua população, que já usufruíra, há menos de 40 anos, a fama de ser uma das capitais mais pacíficas e hospitaleiras do mundo.

Como suas praias eram margeadas por coqueirais e dunas incomuns, o outrora paraíso das águas encantava a gregos e troianos, visitantes cada vez mais assíduos atraídos pelos cantos de uma sereia a habitar suas paisagens.

Em versos e prosas poetas carcomidos pelo tempo reconstituiam recordações com a memória de um antigo monumento: fora um coqueiro a que a natureza fez um brinde histórico e sob a forma de um gogó uma ema se impôs à beira mar como se tivesse submergido num quebramar de seis mestros…

Nessa cidade erguiam-se as têmporas de uma arquitetura fantasma, como se tenebrosos tentáculos tivessem se apoderado do que ela tinha de mais vivo em suas entranhas: a inquietação, o dissabor, a indignação.

Tais foram o temor a represálias disseminarado pelo medo, a perseguição aos menores insolentes propagada pela aparente ingenuidade do cérebro enfermo do prefeito fantasma, a força criadora da imaginação nefasta de um psicopata, o alcance da mente aparentemente simples de um mago com a fome avassaladora de um ladrão de pobres almas, que a população se sente como se tivesse sido sitiada.

Nela,ora se vê obrigada a idolatrar um falso poeta,um demagogo terrível; ora se sente presa,vítima do seu próprio temor ao futuro – e prefere a continuação das atrocidades do presente à inovação do amanhã.

Nessa cidade Fantasma até os animais são vítimas de si mesmo: antes eles falessem e agissem como pessoas – talvez assim pudessem reagir à altura. Não seria tão maltratados no setor de zoonoses.

Nessa cidade Fantasma até os servidores são perseguidos por suas sombras: vivem assustados quando se vêem nos espelhos como, do mesmo modo, quando suas sombras se projetam com o sol da manhã ou da tarde na rua.

Senhor do cofre da cidade Fantasma, o prefeito é também senhor do povo: grande parte dos recursos públicos do município são transformados em bens patrimoniais dos parentes-jaranjas.Afinal, trata-se de uma espécie de capitania hereditária, uma antiga sesmaria convertida em bens próprios como se se originassem de uma monarquia, uma herança de um povo fantasma.

*Qualquer coincidência é mera semelhança.

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