Geraldo

São Paulo, meu amor

Augusta, Angélica e Consolação

Augusta, graças a deus,
Graças a deus,
Entre você e a angélica
Eu encontrei a consolação
Que veio olhar por mim
E me deu a mão.
Augusta, que saudade,
Você era vaidosa,
Que saudade,
E gastava o meu dinheiro,
Que saudade,
Com roupas importadas
E outras bobagens.
Angélica, que maldade,
Você sempre me deu bolo,
Que maldade,
E até andava com a roupa,
Que maldade,
Cheirando a consultório médico,
Angélica.
Augusta, graças a deus,
Entre você e a angélica
Eu encontrei a consolação
Que veio olhar por mim
E me deu a mão.
Quando eu vi
Que o largo dos aflitos
Não era bastante largo
Pra caber minha aflição,
Eu fui morar na estação da luz,
Porque estava tudo escuro
Dentro do meu coração.

Música e letra de Tom Zé

São Paulo é uma das cidades de que mais gosto. Sinto-me bem quando por lá volto e me sentia melhor ainda durante os anos em que morei em Sampa. Nunca dei atenção e jamais fiquei maldizendo a vida na metrópole, por ser agitada, movimentada.

A cidade se transformou ao longo do século XX, deixando de ser uma cidadela e entrou para o rol das metrópoles. As vantagens e desvantagens podem ser contabilizadas. Alguns saudosistas lembram do passado calmo, tranquilo e seguro. Outros xingam, esbravejam contra os dias em que vivemos: barulho, insegurança, desemprego, tudo é motivo para se falar (mal) do gigantismo de São Paulo.

Eu, sinceramente, me amparo na beleza poética de Sampa, um dos hinos não oficiais de São Paulo, composto por Caetano Veloso:

“[…[Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva […]”

Não me zangava, de um modo geral; algumas vezes, sim, pois não sou de ferro, ao ficar preso durante horas no trânsito cada vez mais infernal. Ou durante as constantes enchentes que mudam o humor da população e destroem vidas e esperanças. Procurei e ainda procuro − quando estou na cidade − relevar os dissabores, ou, melhor dizendo: o caos urbano a que o paulistano vem sendo submetido.

As mazelas, procuro tirar por menos. O que me atraía e continua a atrair, a me seduzir em São Paulo, é o multiculturalismo. Mesmo depois de tanto tempo, continuo admirando a tolerância que há entre as muitas nacionalidades e etnias que convivem pacificamente na cidade.

Os nordestinos – meus conterrâneos − que vieram trabalhar na construção civil como operário, engenheiro, motorista, porteiro de edifício, professor, militar etc. ajudaram anonimamente na construção da maior cidade do país e numa das maiores metrópoles do mundo.

Deixando muitos deles em condições adversas, correndo da fome e da seca no sertão, mesmo assim chegaram à cidade com vontade de construir um mundo novo, uma civilização novíssima; trouxeram enfiado na matula os seus costumes, as tradições, culturas e a memória da sua terra, além da vontade indomável de trabalhar.

São Paulo me ganhou pela boca ou pelo estômago, como queiram. Os restaurantes, as cantinas, os bares, as docerias, as sorveterias e a leiteria americana, que já não existe mais. A diabetes me obrigou a mudar de vida e de hábitos alimentares, mas não me tirou o prazer de comer e viver.

A relação é enorme, alguns me ocorrem, e não fica bem deixá-los de lado. O Parreirinha, na General Jardim, foi ponto de encontro de Jamelão e de outros sambistas, inclusive de Paulinho da Viola. Na rua Aurora, 100, é servido o melhor chope da cidade, no Bar do Leo.

O filé do Moraes é inigualável, sendo sinônimo de boa refeição. A esquina da avenida Consolação com a rua Maceió é o endereço do Bar das Putas. Aí, cerveja, cachaça e costelas são servidas no capricho.

O Bom Retiro, bairro de poucas ruas, tradicional endereço da comunidade judaica em São Paulo, tem bons restaurantes. Dois me atraiam: O Acrópole, onde é servida a tradicional comida grega, e o Cecília, um restaurante especializado em comida judaica.

Em Moema, a tradicional choperia Joan Sehn se mantém frequentada pelos antigos e novos apreciadores de chope. O Bexiga abriga inúmeras cantinas, mas a Montechiaro é quem melhor serve o cabrito ítalo-paulistano. É a minha recomendação.

As livrarias, os museus, os shows, os teatros, os sebos, de tudo há na cidade. “Alguma coisa acontece no meu coração/ Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João”: o verso leva ao Bar Brahma, onde tantas e quantas vezes atravessei as avenidas famosas para tomar chope e jogar conversa fora.

São Paulo é uma coroa de 457 anos. Se eu falar que está enxuta, estarei mentindo, pois tem chovido sem piedade, mas hoje em dia se pode dizer que é uma coroa sem garoa.

Salve São Paulo!

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