Reinaldo

As lições do Massacre do Rio

Quarenta e oito horas depois do massacre dos alunos de uma escola de ensino fundamental em Realengo,no Rio, quinta-feira,6, por um esquizofrênico, deixando um saldo de 12 mortes e mais de 50 feridos feridas, já é possível extrair do episódio algumas lições que servem a toda a sociedade brasileira.

Entre essas lições se aguçam aquela segundo a qual os meios de comunicação de grande porte como a rede Globo, utilizaram a tragédia como espetáculo e não no sentido didático, para transmitir conhecimento e saberes à sociedade. Porque a base para se evitar novos episódios semelhantes está justamente na extração de lições sobre relacionamento entre o estado e a comunidade, entre escolas, alunos e seus pais, entre professores, a direção escolar,alunos e pais.

Não há vantagem alguma em autoridades do Rio dizerem que se trata de u fato isolado, como se esse massacre estivesse desconectado com a convivência do atirador com a direção escolar e com seus colegas de rua e do bairro, e como se o evento não acontecesse no Brasil,no Rio, em Realengo, numa escola com 40 anos de existência, frequentada por famílias. Esse esforço da Secretaria de Segurança dó Rio de Janeiro em tentar isolar o massacre da vida social da cidade nada mais é do que a tentativa de dizer que o governo estadual não tem nada a ver com isso. Pois é mentira: tem sim e muito. Aliás todos tem, senão vejam os.

1-A LDB-Lei de Diretrizes e Bases- que rege a educação brasileira se ausenta por completo das relações da direção escolar com as comunidades, obriga as as escolas a só funcionarem de segunda a sexta-feira.Justamente nos fins de semana na, quando os pais estão em casa, as escolas estão de portas fechadas para eles e também os alunos como instituições estanques;o espaço escolar não serve às famílias, a não ser excepcionalmente quando há diretoras abertas ao diálogo, quando isso deveria ser obrigatório, institucionalizado.

2-as escolas devem ter em suas mãos os perfis de todo o alunado, seus problemas e de suas famílias para facilitar sua integração. Como se pode admitir que o aluno estude 3 ou 4 anos numa escola e não se descubra seu estado de perturbação mental? Como a mãe de um aluno morre, ele fica sozinho e a escola nem toma conhecimento disso? Não existe nenhum serviço social capaz de fazer a ligação dos problemas familiares e abrir espaço às soluções?

3-O sistema de educação do Brasil forma o aluno e depois o abandona, como se já tivesse feito a sua parte. E o encaminhamento profissional dele ao mercado de trabalho? Faz-se o investimento no aluno de 1º. Grau e os demais graus, ficam soltos? Que sistema educacional é esse que não se importa com o destino do aluno?

Não precisa ser psicólogo ou psiquiatra para saber que no Brasil há uma multidão de pessoas sofrendo de transtornos e perturbação mental na linha da esquizofrenia. Até porque o modelo econômico em vigor no país conduz a instabilidade emocional crescente.Nesse sentido. a desagregação familiar incentivada pelo uso de drogas exerce um papel fundamental.

Outro fator contribuinte para essa desagregação é a escala de valores, que sofreu uma avalanche de conversão nos últimos 60 anos, no período em que o Brasil se transformou de um país rural num país urbano.

A LDB e as próprias escolas, que poderiam ser instrumentos para o enfrentamento da nova realidade social ficaram paralisados no tempo e no espaço. E a escola, que deveria servir de modelo para valores como a honestidade e a sinceridade,é usada como fonte de corrupção(o que se rouba de merenda escolar Brasil afora não é brincadeira).

4-assim, fica clara a necessidade de os crimes envolvendo escolares e escolas terem punições bem maiores, não sendo exagero dizer que pelo roubo de merenda escolar o responsável deveria ter uma pena de prisão perpétua. Você já refletiu sobre o que é uma criança ir para a escola por causa da merenda mas, ao chegar lá, não há merenda porque o ladrão levou?

5-Todas as escolas públicas deveriam ter um anexo na entrada para a guarda municipal com detector de metal para evitar que se entre armado;

6-As reuniões do conselho escolar devem ser abertas às comunidade para que todos do entorno da escola saibam o que está acontecendo no estabelecimento; há muitas queixas, pelo país, de que as lideranças comunitárias são barradas nesses reuniões como se fossem pessoas estranhas no ninho, quando muitas vezes moram pertinho das escolas.

Se o governo brasileiro e o congressso nacional não tomarem as medias necessárias para evitar novos episódios como o do Rio, o Brasil deve preparar suas lágrimas para chorar muitas vezes como ocorreu nos Estados Unidos nas décadas de 70,80 e 90, rio de lágrimas esse que só cessou depois que as autoridades acordaram para esses aspectos prioritários para fundamentação de uma cultura de paz, em meio a cuja preocupação nasceram centenas de escolas de paz, reduzindo no ano passado em 25 % a criminalidade no meio oeste em relação ao ano anterior.

*Reinaldo Cabral é jornalista e eascritor e coordenador geral da AALONG-associação alagoana de ONGs,.contato: reinaldocabal@hotmail.com

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